Catálogo

Nada mais significativo que o título do livro de Maria Lúcia Felix Bufáiçal, Rio do sonho. Este conjunto de poemas, associado ao rio Araguaia (tão presente no imaginário dos goianos), mas que também fala de um rio universal, em toda sua riqueza simbólica, é efetivamente feito de rio e de sonho, de água e de memória, de tempo, de fluidez, de lembranças afetivas, líquidas e pessoais. Buscando no rio a sua matéria poética, os poemas que compõem o livro se estruturam a partir do campo semântico de rio e água; e em torno dele gravitam substantivos como peixe, sereia, margem, correnteza, praia, areia, barco, pântano, remanso, porto; verbos como mergulhar, pescar, garimpar, navegar, lavar, refrescar. O devaneio hídrico propiciado pelos poemas inclui também a água do céu, a chuva escondida na nuvem, o que faz surgir imagens que associam os peixes aos pássaros. Tudo converge de modo harmônico para uma constelação simbólica que unifica os poemas, os quais ganham força na medida em que compõem uma mesma atmosfera lírica.

Sobre a autora

 Maria Lúcia Felix Bufáiçal. Nasci no Rio de Janeiro em 1950, ocasião em que morei pouco tempo na cidade. Voltei a morar no Rio em dois outros momentos: interna num colégio de freiras em Santa Teresa e, mais tarde, casada com o Ricardo, quando ele cursava Mestrado em Física na PUC. Os poemas que escrevi, quando criança, foram reunidos e publicados pela Editora Leitura, do Rio, no livro Rosa no vento, lançado em Goiânia quando eu tinha apenas 14 anos. Depois disso fiquei quase 20 anos sem publicar nada. Escrevia, mas guardava, apesar de que, em algumas ocasiões, muitas até, tive poemas publicados em Suplementos Literários de diferentes jornais de Goiânia. Mas nada de livro. Eu estava trabalhando, criando meus filhos. Era uma fase de minha vida em que o tempo era precário e o dinheiro idem. Um dia resolvi juntar um pouco do que tinha escrito e mandar para a Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos. Ganhei a publicação e assim surgiu A vida dividida, que tem poemas de diferentes fases, diferentes momentos, e de diferentes níveis também.
Continuei escrevendo sempre. Chamada para trabalhar numa revista. Escrevia crônicas entre outras coisas. Depois de algum tempo juntei todas elas e me inscrevi num concurso da Secretaria Municipal de Cultura, que publicou meu livro de crônicas intitulado: As margens do dia.
Agora vem este de poemas, o Rio do sonho, livro que vem cumprir uma promessa minha, a de publicar um livro sobre esse rio, metade real, metade, inventado, mas sempre um sonho. O Zé César me cedeu às gravuras, que expressam o clima que eu pretendia. O resto a Ione fez, e também a Zaíra, com trabalho e belas palavras encadeadas. A Luciana fez um lindo trabalho com a capa e o livro está pronto. 
Tenho cinco filhos, já adultos. Perdi meu marido há um ano e sinto o impacto dessa perda com muita intensidade. Ele era uma luz, um guia, um amigo. Também ele está no Rio do sonho e em tudo.

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